Uma vez tive um melhor amigo. Ele era bonito. Muito bonito. Minhas amigas morriam por ele, e ele não perdia uma oportunidade com elas. Era um galinha de mão cheia. Mais o cabra era bonito mesmo, parecia um artista de tv, loiro, alto e dono de um sorriso enorme, era meses mais novo do que eu, mais naquela época já tinha vivência de um homem formado. Ele era engraçado, ria fácil, e me fazia rir  fácil também. Me lembro que ele cuidava bem de mim, era feito o irmão mais velho que eu não tive. E eu vivia dizendo isso a ele. Me mostrava que homens, em geral, não valiam nada. Tentou me proteger de crescer e ver o mundo como realmente é. Mais eu, tive que crescer, ele até tentou me manter longe das noitadas com os ‘amigos’ que eu agora, venerava. Mais eu precisava ver, sentir e curtir tudo isso. Conheci alguns caras, quebrei a cara com todos, e ele sempre nos bastidores da minha vida, vendo cada tombo que eu levava com os meus namoros relâmpagos. Mais aí, de repente, eu que sempre fui moleca, e distraída, fui vendo naquele amigo bobo, palhaço, e companheiro, um brilho diferente, um olhar mais cativante, e um sorriso encantador. “Deus, como não percebi isso antes?” Mais continuei rindo daquelas piadas bobas que só ele fazia, só que agora não ria mais dele, ria para ele. E isso fazia toda diferença pra mim. E anoite, não mais orava pra que Deus o protegesse, e sim que afastasse ele das piranhas da faculdade…amém! Um dia sonhei que estava casando, linda de branco entrando na igreja toda sorridente, e um noivo alto com um paletó branco me esperava de costas, quando ergui meu lindo véu, dei de cara com aquele sorriso…acordei como se fosse um pesadelo, suando e dizendo “Não, não posso, não posso”. Mais meu coração gritava sim. Na manhã seguinte levantei e como que involuntariamente minhas pernas me levaram até ele. Espiei pela janela, e pela primeira vez senti um friozinho na espinha ao vê-lo aquela hora da manhã com aquela toquinha branca que o fazia mais lindo ainda. Fiquei ali um bom tempo, até que ele me viu e sorriu, entrei e disse bom dia. O cheiro dele se misturou com o cheiro do pão quentinho e me extasiou por alguns longos segundos. Que dia lindo, mal ele imaginava quão lindo estava aquele dia pra mim. Tentei falar da vida, do serviço, da família, só faltava falar do aquecimento global e todas as baboseiras que agente fala quando não sabe o que falar. Enrolei e acabei não contando do sonho, fui embora. Fiquei furiosa, por dentro, as palavras que deveriam ter saído estavam me sufocando. Abri o facebook, e postei um texto, é, um texto, muito maior do que esse por sinal, com direito a poemas, e até música do Cazuza. Falei tudo, o que podia e o que não podia falei também. Os dias foram passando, e eu já nem queria mais uma resposta, só queria poder dizer que o amava, apesar de estar com outra pessoa, eu o amava. E sei que ele não entendeu nada, homens não conseguem entender o que é amar um ser e continuar namorando outro ser, talvez carência, segurança, enfim, era essa minha situação. Os dias se passaram, e ele se afastou de mim, eu entendi e respeitei, afinal, acho que eu também me afastaria. E hoje, depois daquele turbilhão de sentimentos que senti por ele, consigo respirar melhor, pensar melhor e entender que na vida, paixões acontecem, amar o melhor amigo, acontece. E é a coisa mais comum que se pode acontecer, porque como amigos, não usamos máscaras, somos nós mesmos, e isso nos torna encantadores. Vê-lo sorrir por bobeira, falar asneira o tempo todo, dançar forró comigo mantendo distância do meu corpo, pegando na minha cintura e não na minha bunda, me segurar nos braços quando me desfaleci, tudo isso me fez acreditar que seria ele, só ele e mais ninguém. Que eu jamais amaria alguém como amei aquele menino. Mais o tempo, que pra mim é rápido e como um vendaval leva e trás pessoas a todo momento, me sussurou esses dias, que ele seria o amor mais confuso, mais doído, e mais marcante também, e que eu não devia me preocupar, porque ele iria passar, e eu enfim diria de novo sem peso nenhum, que aquele cara, é e sempre será, apenas o meu melhor amigo. E isso é o que vem me acalmando a alma ultimamente.

Karol Lombardi