#053 - Citações indevidas II. Clarice Lispector,Pedido da Raíssa.

Reuni algumas citações de Clarice Lispector, citações que me descrevem perfeitamente bem!


"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade."

"Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal-estar. Mas no entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza."

Estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.

"Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito, do qual, no entanto, não se precise. Estou, por assim dizer, vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém."



Clarice Lispector

imagem: Wesley Wiezel































Encontrei nele tudo aquilo que procurava em mim.
Encontrei naquele sorriso malandro um beijo que me tirou o ar.
Encontrei naqueles olhos uma infinidade de possibilidades, de brilhos e mistérios.
Encontrei paz, paz genuína, aquela que acalma a alma, encontrei naqueles braços o lugar perfeito para voltar, me esconder, me proteger e me encontrar.
Me encontrar, parece algo tão complicado para mim, mais tão simples para ele.
Ele me encontra onde eu nunca soube estar, ele me encontra em uma música rimada num suave flow, me encontra em um poema de Vinicius, me encontra em cada lágrima fruto da minha confusão mental e emocional.
Encontrei tanto nele, que me perdi um pouco.
Me sentir tão amada assim me causa medos, calafrios na espinha.
Eu me entrego demais, amo demais, faço poesia com a vida quando estou amando.
E se de novo eu me ferir? E se tudo que me encanta nele, um dia virar fogo contra mim?
Enfim, encontrei em mim um sentimento nunca sentido ou se quer imaginado.
Não estou exagerando, estou verbalizando, tentando expor o que é tão oculto até para mim mesma.
Me sinto tão perdida agora, mais sei que ele irá me ajudar a encontrar o caminho, porque ele é o ponto de encontro onde eu sempre quis estar.


Karola, tentando se encontrar.






Se pensar logo me faz existir da forma em que pensei, tenho pena de mim.
Penso tanto, imagino coisas que me envergonho de contar.
Faço suposições e acredito cegamente nelas. Afinal, o que eu imagino não é a verdade soberana?
Não! Infelizmente (ou felizmente) não é.
Meus pensamentos me sufocam, sufocam quem me rodeia e machucam até quem longe prefere ficar.
Dificilmente tenho respostas concretas, sentimentos concretos...as vezes um coração de concreto é o que pareço ter, um coração de concreto com ligações de ferro, que me causa um peso enorme bem aqui dentro desse peito frágil feito vidro.
Outrora, me achava forte, convicta e sábia, queria que me amassem, mas não queria amar.
Agora quero amar, preciso, necessito amar.
Agora já, acho uma bobeira esse conselho de mamãe dizer que sempre devo escolher alguém que me ame mais do que eu mesma...mais caramba, eu quero amar também.
Não quero só receber, ser elogiada e quase posta em um altar, isso me enjoa e me dá náuseas, amor mais sem graça de viver, feito piscina de hotel, sem ondas, sem perigos, e com uma profundidade pré-determinada. Eu quero um amor de mar. Talvez até de oceano. Um amor que não me dê pé, que me afogue as vezes, mais que me apresente belezas incontestáveis que só é vista por quem se arrisca à mergulhar, e que me cause frios na espinha como um surfista no topo da onda. As vezes o amor nos dá "caldos" que nos derrubam e dificultam o nosso levantar, mas ainda assim, as belezas de um amor-mar nos impede de acreditar que o amor é "caldo", porque quem um dia mergulhou no mar, não deixa que os "caldos" o impeçam de nadar.
Enfim, eu só quero poder aMAR!


Karola caraminholando sobre o mar que é AMAR!







Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos que jamais poderiam compreendê-la. 

Bukowski





Hoje o sol nasceu sutilmente no horizonte. Como alguém que espia atras da porta ele surgiu  trazendo um pouco de cor para o céu cinzento, e pro meu coração nublado.
Ele parecia me sorrir com um arzinho de paz e serenidade, me desejando calma e paciência.
Sou apaixonada pelo céu, fico boba com a imensidão e beleza incontestável de algo que se modifica todos os dias trazendo a certeza de que existe algo bem maior que nós, que contempla e dá graça todos os dias a nossa pequenez. As vezes, me sinto céu. Tenho em mim uma imensidão de sentimentos, pensamentos...medos. As vezes nublado e chuvoso meu coração se encontra, com uma grande nevoa que me impede de crer que ainda existe uma luz por trás daquela massa cinzenta e fria...mais ai o sol que vive em mim volta sorrindo e todo metido ilumina e esquenta cada cantinho obscuro do meu nublado coração.
Antes me preocupava com essas minhas estações de humor, sempre tão imprevisível como chuva de verão...mas hoje sei que devo deixar livre o que estiver acontecendo em mim, se chover, deixo inundar, pois sei que depois disso o arco iris no meu sorriso vai voltar á brilhar.

Karol Lombardi



será que, às vezes, a gente se dá tanto a outra pessoa que chegamos a desaparecer? Será que quando damos uma carta, um bilhete, um telefonema que nunca é correspondido, será que é assim que a gente vai se perdendo? Será que é assim que tudo se acaba? Ou nem mesmo começa?
Ontem eu me procurei por todos os cantos que eu costumo ir, mas não me achei! Foi aí que eu percebi que eu não tinha mais nada, que foi tudo embora Toninho, que eu não tinha mais nem a mim! Mas onde foi que eu me perdi? Em que carta, declaração ou esquina eu deixei que eu fosse embora de mim sem nem mesmo me despedir? Onde foi aquela menina sonhadora, que um dia iria pra África e salvaria multidões? 
A janela do quarto estava aberta e o vento me trouxe uma folha em branco. A folha sorriu pra mim. Ela disse que sim, que me entendia: ela mesma era um grande vazio. Mas eu não sei te preencher, disseram meus dedos trêmulos de frio.
Não resisti: me entreguei à folha. Afundei o meu vazio nela o mais que pude. Como se assim pudesse aprisionar o meu vazio em um instante. Como se assim pudesse aprisionar o amor. Então eu aprendi: não importa o quanto você não exista mais pra você, nem em quantos mil pedacinhos você se encontra depois de tantas decepções.
Uma folha em branco pode ser uma carta pra alguém que, mais que tudo, apesar de tudo, em uma fração de segundo me comove e me arrebata e me abraça com um abraço forte e me completa. 
E isso é maior que tudo, mais lindo que tudo, muito mais lindo do que se eu fosse uma pessoa inteira.


Karola sobre o seu vazio momentâneo !





“Talvez ele não saiba que aquela dor que ele causou, calou os olhos dela violentamente por uns tempos. Isso não é crime, é carma: Magoar alguém assim, dentro do melhor vestido, remover com lágrimas o rímel cuidadosamente passado, deixar tão descrente alguém que achava a vida mágica. Talvez ele nem desconfie que quando ele disse eu vou embora e ela tudo bem, logo que se deram as costas, ela respirou fundo uma, duas, três vezes, colocou quatro gotas de floral de Bach embaixo da língua e se afundou na tristeza escutando Killing Me Softly da Roberta Flack e Como Vai Você? do Roberto Carlos. E que passou sete dias lendo Nietzsche revoltada com o “Último Homem” e discordando do “Pequeno Príncipe” de Exupéry. Entendeu perfeitamente o I CHING quando disse que não era favorável atravessar a grande água e foi dormir sem sono, meditando cura e mantrando plenitude nas caminhadas matinais que só fazia se houvesse chuva. Mas tentou suicídio comendo o último pedaço de pizza de calabresa esquecida, desde aquele dia, dentro do forno apagado. Porque morrer de amor seria um exagero. Talvez ele nem imagine que ela parou de sair com os amigos pra beber vinho em casa escondido, no café-da-manhã. E escreveu vinte e nove cartas sobre a raiva e nunca enviou porque era moça espiritualista e tinha que manter o discurso saudável do “isto também passará”. Não mandou, mas depois da segunda garrafa de vinho às três da tarde, foi por um triz. Talvez ele nunca saiba que ela mudou os móveis de lugar, mandou queimar o colchão que já conhecia tanto o peso dos dois, e deu pro morador de rua o edredom que testemunhara tantos abraços noturnos. Dormiu no chão, quis mudar de religião, leu Lacan e criticou Freud pelo seu processo lento e generalizador. Pensou em mudar de curso, de profissão, de cidade. Quis mudar de si, já que seu corpo era a casa de um só sentimento. Fez uma viagem, não quis conhecer ninguém, posou de antipática porque estava apática. Se escondeu da lua cheia, fez do seu quarto um campo de concentração e depois se mudou para sala. Trancou todas as portas pra não entrar qualquer ilusão. Por tanto tempo era ela e sua tristeza intransitiva. O que ele também não sabe porque nem ela sabia, é que um dia ela acordaria assim, vazia daquele amor. A dor exaustiva de cabeceira havia cessado, deixada no fundo do poço. Parou de se alimentar daquela porção individual de desilusão e enterrou o passado num túmulo desconhecido, para que não houvesse a menor possibilidade de revisitá-lo. Ele quase soube disto quando pensou que ainda estava recente para ensaiar uma recaída, um flashback. Mas para ela, que só soube na hora do reencontro tão almejado, já era tarde. Havia criado um mantra: No momento em que me dei inteira, ele me deu as costas. Isso não pode continuar supervalorizando uma saudade. Ser uma mulher curada de um amor, dependendo das circunstâncias, pode ser melhor que ser uma mulher amada, por ele. E o seu melhor vestido pedia uma nova chance e um rímel à prova d’água.”

- Marla de Queiroz




O amor é o abstrato da vida. Ninguém consegue defini-lo, apenas senti-lo.
O amor é o incerto, é o certo mas o errado também. 
O amor é indescritível, incompreensível, invencível. Impossível? (as vezes). 
O amor é a causa da insônia e da agonia de querer pra sempre. 
O amor é compasso dos teus passos. O amor é um abraço. 
O amor agora é um delírio. Que bagunça a cabeça da gente, que enrosca na mente e não sai do coração. O amor é a loucura e a sanidade. O amor é droga pura que se usa em toda idade. Traz tristeza mas também felicidade. O amor é contra, o contradito, a contradição do que bem queremos pra nós mesmos.
O amor é o amado, o fiasco do que não durou. 
O amor faz sorrir, mas em muito faz chorar, ou talvez o meu amor seja dramático demais.
Sempre existirá um amor, calmo, conturbado, manso ou apaixonado, afinal, o amor vai ser sempre o amor!




Almocei ao lado de um casal. Ela dizia "você não tem atitude". E ele ficava quieto. Ela dizia "custava ter se oferecido pra me levar, você sabia que eu tava nervosa". Ele só coçava a testa. Ela dizia "ce pagou quanto". Ele fazia com os dedos "três". Ela gritava "três paus??? tá vendo, ce tem preguiça de procurar". Ele enfiava a cabeça na palma da mão esquerda. Ela dizia "ce vai querer tentar?" Ele olhava o cardápio. Dai ficarem em silêncio uns vinte minutos. Até que ela falou "seu suco não veio, quer o meu?". E ele quis. 

Amar um homem é, basicamente, desistir.



Nice Méia



"Estamos ligados de um jeito que eu ainda não entendo. 
E eu odeio quando sou incapaz de compreender alguma coisa."

Gabito Nunes



Dificilmente eu escrevo sobre você.
Talvez por medo de molhar as palavras, ou de embargar a voz...tenho medo das reações que você me causa. 
Você acorda em mim um poeta desconhecido, procuro palavras bonitas que descrevam você...mas nunca conseguem cumprir o dever destinado a elas, pobres e singelas expressam o que eu sentiria por qualquer outro homem...menos o que sinto por você.
Meus dias se arrastam sem você, mais sinto que a distância corre, voa, te levando cada vez pra mais longe de mim. Você mora perto, eu sei, coisa de minutos, mais e a distância da alma, dos olhares entendedores que agora se perderam? Essa distância eu sou incapaz de suportar.
Tudo de mim pra você parece tão pouco e pequeno, como a muralha da China vista da lua. 
E todos os meus versos são pra você sempre...mesmo querendo escrever sobre o mundo, escreveria sobre meu mundo com você, tudo pra você é tão exagerado, tudo é tão intenso quando se fala desse amor.
Ah amor, será mesmo amor? Ou seria isso um vício obsessivo, uma auto mutilação ao meu coração?
Gostar de quem apenas diz gostar de mim? Ir contra as ventanias da vida pra encontrar a paz em você?
É como se eu estivesse enfrentando uma  tempestade de granizo e você dentro da casa seguro, quentinho, me olhando da janela e esperando que eu chegue pra te amar...mas porque não vem enfrentar isso comigo?
Porque? Porque você é fraco demais para o amor. Porque o seu amor se limita a comodidade, a racionalidade, e a necessidade. Você me propôs um amor de século XXI, cheio de interesses, com alma pintada de orgulho e rosto de amor eterno, você me cedeu um amor de música sertaneja...eu me vi em um amor de Roberto Carlos, eu achei que seria eterno, eu te cedi minha vida, você me cedeu uma fase da sua.
Se fomos feitos um para o outro, porque você é só metade meu, e eu inteira sua?
Você me diz que amor é pra sentir e não pra questionar, mas não posso mais sentir isso, me parece injusto sofrer por um amor que é enorme em mim, e tão invisível em você!

Karol Lombardi