"Eles a chamam de sereia. Morena nascida do sol, dona dos olhos profundos como o mar, e do sorriso estonteante como o raiar de um novo dia. Os cabelos longos fizeram jus ao apelido.
Alguns dizem que ela os confunde, e faz trama com seus pobres corações que encantados pelo levar da Sereia se perdem em um amargar sem fim.
Testemunhas dizem que ela faz tudo de caso bem pensado, que nunca soube amar de verdade, e que se veste de mulher para enganar quem não crê nos poderes que ela tem.
Doce aos que apreciam de longe, amarga pra quem decide se lançar no mar para alcançar o seu cheiro, seu toque ou seu coração. Mas nunca os pobrezinhos puderam alcança-la totalmente, e ficaram a deriva do mar da desilusão para sempre"
Ela fecha o jornal, amarra o cabelo, e pensa o quanto queria ser a figura que os jornais retratam, a mulher arrebatadora descrita pelo povo. Olha no espelho e vê olhos marejados com olheiras, vê um meio sorriso, e uma menina confusa. Não vê uma mulher, nem que se esforce, 
não vê.

Pensa em quantos amores teve, e o quanto se afogou muito mais para resgata-los do mar da solidão.
Pensa em quantas vezes já entrou na igreja de branco, em quantos e quantos filhos já teve...mas nunca fora mais do que seus singelos sonhos. 

Deixa escapar um sorrisinho de deboche do que dizem os tabloides... "que se ferrem os tabloides, que se ferrem essas línguas afiadas, que morram todas com seus próprios venenos," pensa alto.
Ela só queria ser feliz, se entregou tanto como todos eles, amou muito, sempre amou demais. Se afogou alguém é porque já estava afogada bem antes.
Pensa que preferia que o artigo se chama-se Ostra.
E que junto viesse toda a história de como uma ostra produz pérola, e de quanta dor ela suporta para fazer outros brilharem e de quanto nácar ela produz para atenuar sua dor...Isso teria muito mais a ver com quem realmente ela era.



Karola sobre as más línguas do povo.



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