Porque associaram minha pele com a sensualidade? Porque colocam sempre uma negra como tentação para homens casados? Quem foi que disse que a minha cor é a cor do pecado? 

Hoje, me abordaram dizendo que eu deveria sair na maior escola de samba aqui de Bauru, que eu tenho "porte" e beleza ideal pra isso, e que seria o espetáculo da noite. Eu, inocentemente respondi que não gosto de carnaval, e jamais sairia em uma escola de samba por motivos pessoais.
Nessa, o cara me olha e diz: "Nossa, as mulatas de hoje não estão servindo nem pra sambar!!!". 
Virou-se e esnobou-me. Não acreditei! Fiquei boquiaberta e paralisada com tal frase recheda de arrogância e preconceito.
Senti o racismo perfurando minhas entranhas, e aquela frase impregnou meu ser me gerando um ódio inexplicável, e eu ali, parada, estática, sem poder sequer retrucar.
Engoli a seco aquelas palavras que desceram rasgando minha alma, e me senti tão impotente quanto uma escrava abusada pelo capataz, era como se aquelas palavras nojentas estivessem grudadas em mim.
Fiquei regurgitando aquela frase, e senti nojo do que a indústria e os "poderosos" fazem com a figura da mulher mulata e negra.
Nos julgam como "gostosas", donas de belas bundas e quadris invejáveis (o que não é o meu caso), marrom-bombom, cor do pecado...nos jogam no carnaval para os gringos como se joga milho para galinhas famintas, fingem nos coroar rainhas, mas a coroa é cravada de pura luxúria e sexualismo.


Quando me revoltei com o babaca, fui pesquisar sobre a banalização da mulher negra no Brasil, e ao me deparar com a primeira foto deste post no instagram da Sheron Menezes, me senti em um mercado humano na época colonial, senti vergonha do Brasil, senti ódio da rede globo. Que porra é essa agora? Negros vendendo negros? O que faz uma negra aceitar apresentar um quadro onde sua própria raça é desvalorizada e apresentada como objeto sexual? Um contrato? Um cachê? Ou a falsa glória de que uma negra que vende negras está livre do próprio jugo de sua raça? Impossível compreender.
A globo continua vendendo carnaval como se fosse uma afirmação da cultura negra, pregando que festa é nossa, por isso devemos eleger a mais bela bunda negra para sacudir a Sapucaí e deixar os gringos babando, devemos todas sambar, aproveitar o espaço em rede nacional que só nos é dado em troca de muita mulher pelada sambando e alegrando a nação de idiotas, afirmando que mulatas só servem para isso mesmo, e só se encaixam na rede em fevereiro, e fim.



Nos outros meses, a globo escolhe negros que ocupam a classe dos capatazes brancos, usando a nossa própria raça como nosso dominador, divindo a raça em: pretos bem sucedidos que aparecem em horário nobre vestindo um guarda-pó, e pretos favelados que aparecem na ridícula série Falcão do Fantástico. Babacas!
A indústria nos banaliza de propagandas limpas e construtivas, mas se jogam aos nossos pés quando o assunto é sensualizar, mostrar tudo e rebolar.
Até quando a mulher negra será a sub-mulher? Até quando nossos corpos serão mais importantes do que a nossa inteligência? Até quando o brilho dos paetes irão ofuscar o nosso brilho próprio?
Já faz um bom tempo que deixei de assistir a rede globo, conforme amadureci meus ideais e minha identidade negra, fui percebendo detalhes sutis em séries e novelas que tratavam negras como objeto sexual, ou favelada, pobre, drogada e gananciosa.
Via ótimas atrizes negras, cheias de competência, se expondo a papéis ridículos e humilhantes e se tornando coniventes com a visão implantada pela globo sobre mulheres negras...aceitar esse tipo de papel é aceitar que negras devem continuar na cozinha, na roça, nas favelas ou expondo seus corpos no carnaval. 
Eu poderia citar centenas de personagens humilhantes apresentadas pela globo através de atrizes negras, mas acho desnecessário, afinal, todos nós vemos claramente isso a cada série como Subúrbia e etc. 





Está na hora de mudarmos a visão sobre nós mesmas, não aceitarmos o que a indústria joga em cima de nós, chega! Estamos dando pequenos passos em direção a liberdade, o movimento de transição capilar é uma prova disso, mulheres negras se aceitando, e encontrando em si suas próprias raízes e valores, acho lindo ver uma negra de black, nem esquentando pros padrões, apenas se achando mais linda a cada reflexo nas vitrines, e nos olhos das pessoas que as encaram.
É lógico que a indústria não se opôs contra a nossa libertação da chapinha, mas correu para fingir estar do nosso lado, e que black é lindo...mas eles não precisam nos dizer isso agora, aprendemos sozinhas enquanto eles nos oprimiam com padrões de "lisisse" extrema não é?!
Bom, o caminho está traçado, só precisamos seguir, a liberdade vem quando não aceitamos a condição, somos capazes, somos fortes, levamos esse país nas costas e não podemos nos colocar como mero objeto sexual, porque não somos isso.
Desejo que cada mulher negra se assuma, se aceite e se ame. Que encontre a sua identidade além do que os outros dizem, e que sejamos mais do que o esperado.
Chega dessa patifaria, se querem fazer do Brasil um prostíbulo vestido de festa que excluam a ideia de que negras são a cara do carnaval, porque nossa cara está bem longe de ser reflexo dessa máfia e podridão que é o carnaval.
Que sejamos fortes e guerreiras como Angela Davis, e que os modos do nosso país não nos façam mulheres omissas, mas que com convicção, coragem e garra possamos nos auto conhecer, e não deixar que nos julguem...mas que aprendam valorizar nossa postura, não o nosso quadril.


E queridinho que me mandou sambar, bota você uma micro saia pra combinar com o tamanho do seu cérebro, rebole bem descaradamente pra combinar com a sua cara de pau e vai desfilar você, eu tenho mais o que escrever, mais o que pensar e mais o que mudar nesse país onde tantos pensam como você...por enquanto! Bye Bye Babaca!!! 

Karola, por: espírito de Angela Davis ;) kkkk





Um Comentário