será que, às vezes, a gente se dá tanto a outra pessoa que chegamos a desaparecer? Será que quando damos uma carta, um bilhete, um telefonema que nunca é correspondido, será que é assim que a gente vai se perdendo? Será que é assim que tudo se acaba? Ou nem mesmo começa?
Ontem eu me procurei por todos os cantos que eu costumo ir, mas não me achei! Foi aí que eu percebi que eu não tinha mais nada, que foi tudo embora Toninho, que eu não tinha mais nem a mim! Mas onde foi que eu me perdi? Em que carta, declaração ou esquina eu deixei que eu fosse embora de mim sem nem mesmo me despedir? Onde foi aquela menina sonhadora, que um dia iria pra África e salvaria multidões? 
A janela do quarto estava aberta e o vento me trouxe uma folha em branco. A folha sorriu pra mim. Ela disse que sim, que me entendia: ela mesma era um grande vazio. Mas eu não sei te preencher, disseram meus dedos trêmulos de frio.
Não resisti: me entreguei à folha. Afundei o meu vazio nela o mais que pude. Como se assim pudesse aprisionar o meu vazio em um instante. Como se assim pudesse aprisionar o amor. Então eu aprendi: não importa o quanto você não exista mais pra você, nem em quantos mil pedacinhos você se encontra depois de tantas decepções.
Uma folha em branco pode ser uma carta pra alguém que, mais que tudo, apesar de tudo, em uma fração de segundo me comove e me arrebata e me abraça com um abraço forte e me completa. 
E isso é maior que tudo, mais lindo que tudo, muito mais lindo do que se eu fosse uma pessoa inteira.


Karola sobre o seu vazio momentâneo !



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