Hoje de manhã, estava longe em meus pensamentos, flutuando, e pensando na vida.
Caminhando com aquela cara de sempre, de quem vai pra um serviço de sempre, comer um lanche de sempre, e viver um dia como todos os outros dias, chatos...como sempre!
Fingindo sorrir pro mundo, me desligo e deixo meu corpo dançar por dentro na batida que saia dos meus fones no volume mínimo, para não me causar danos auditivos, como disse o chato do meu médico com nome complicado: "Não vá ouvir música no volume máximo, isso pode acabar com a sua audição mais tarde mocinha!". Legal, nem ouvir meu rap com a batida no último eu posso mais, afinal, isso pode me causar danos mais tarde! Quem se importa com o "mais tarde"? De repente paro no caminho para esperar uma fila de pombas atravessar, todas pomposas, como quem desfila em salto alto, no São Paulo Fashion Week, elas passaram por mim, sem notar que aquele era meu território, e que elas deveriam estar nas árvores, voando, até cagando nas pessoas atrasadas pro trabalho, que fosse, mas não andando. Isso não é coisa de pombas. Me lembro que foi meu primo quem me fez atentar para essa doidera, de "pombas civilizadas", me fazendo notar que elas desaprenderam a voar, e agora passeiam pela cidade à pé, sem se lembrarem de que podem simplesmente...VOAR!
 E agora não consigo parar de observá-las onde quer que eu vá...As pombas não voam mais. Que pena! Que pena mesmo! Quem dera eu pudesse voar. Ter asas e poder usá-las para sair desse lugar, eu voaria pra longe, de estação em estação, seria a pomba mais viajante que o reino das pombas já viu.
Não ficaria andando por aí, feito gente, voaria por sobre eles pra mostrar quem é livre de verdade.
Mas, aí, me lembro de que também tenho asas, asas bem maiores do que a maioria dos humanos comuns costumam ter.
E que eu não sou uma "pomba" que foi feita para andar, eu fui feita pra voar.
Achei engraçado isso, querer ser diferente, sendo tão igual.
Acho que o mundo me cortou as asas, a rotina, o trabalho, os amores acabados, tudo isso podou parte das minhas asas...logo eu, que gostava tanto de voar.
Certamente as pombas estejam cansadas, sei lá, se eu estou elas também podem estar.
Se até elas precisaram se "socializar", certamente eu teria de parar de querer voar também...e ser mais uma "sociável" no meio da multidão que corre pra lá e pra cá a todo tempo, feito pombas malucas no parque atrás de migalhas, esquecendo que agente é mais que isso, que existe muito muito mais pra viver.
Agora, já não sei se odeio os humanos por terem esquecido que agente pode "voar" e ser livres dessa rotina maldita, ou se odeio as pombas, por ainda poderem voar, e mesmo assim, continuar fazendo fila pra cortar a minha frente no meio da rua em pleno calçadão.

- Karol Lombardi



Deixe um comentário